Crônicas, de um Motorista
Era manhã de
segunda, um dia de chuva, e eu chegava a garagem, a minha escala incrivelmente
era a linha 203 a rota mais longa para o lugar mais distante da cidade, eram
quatro da manhã quando entrei no ônibus, liguei o carro, limpei um pouco meu
local de trabalho, o cobrador que iria fazer a viagem comigo acabava de chegar,
eu lhe saudei com um bom dia!, e ele prontamente respondeu. Já era perto das
quatro e meia quando partimos, íamos conversando tantas coisas, falamos de
futebol, da empresa, de filhos, de família, ah foi uma ótima conversa, quando
já ia saindo da cidade, vi um acidente grave muitos feridos, tinha sido um
irresponsável que conduzia um carro bêbado e feriu algumas pessoas quando subiu
a calçada com o carro, é fiquei triste mais não podia fazer nada, enfim
continuei a viagem. Já estava na estrada há quase uma hora, e ainda faltava um
pouco para chegar ao lugar de destino, e o cenário conforme o tempo e a
distancia foi mudando eu que trabalhava já a mais de quinze anos na empresa
sempre somente dentro da cidade, quando vi aquelas paisagens verdes, estradas
pouco movimentadas, sem acostamento o verde tomava conta, e a estrada de terra
mi deixava vendo pelo retrovisor a poeira alta, como era lindo pra mim ver tudo
aquilo. Chegava ao pequeno vilarejo, poucas casas, poucos habitantes,
plantações, nada de muro eram cercas de como eles chamam “estacote” um tipo de
pau pequeno e bem grosso, outras de arrame. Era um grande inverno e as
plantações de milho e Feijão estavam a mil por hora, descobria que naquele
carro 340 com meu cobrador Douglas, Quando ele veio lá de trás e disse, Paulo,
Chegamos ao paraíso, Dei uma rápido sorriso e disse, sim Douglas Chegamos, que
terra maravilhosa aquela, Gente De bons corações, que se importava conosco,
muito diferente da cidade onde é difícil encontrar quem se importe com
motorista e cobrador, perguntaram até se nós já tínhamos tomado café, não tive
duvida aquilo sim era vida, sai com o carro e bastante gente alguns pra vender
milho feijão, outros trabalhar, crianças e jovens pra aula, mamães as compras,
alguns a passeio, e enquanto dirigia todos conversavam comigo, perguntaram meu
nome, que hora tinha acor
dado pra ir busca-los, quando falei que tinha acordado
as três da manhã eles falaram que eu realmente amava o trabalho, e tinha
compromisso com quem precisava de mim aquelas palavras eram mais do que
qualquer troféu, medalha, era reconhecimento, de pessoas, era a opinião delas,
ganhei meu dia com aquilo, mais não acabou por ai, terminei a primeira viagem
faltava duas pra lá durante o dia, uma ao meio dia e a outra a tarde, então fui
pra casa, volte fiz, uma, fiz duas, recolhi o carro, cheguei na garagem Jorge
meu escalador Falou e ai Paulo tenho uma noticia pra te dar, você será o novo
motorista do 340 na linha 203, pra mim terminou de deixar meu dia perfeito, foi
um premio que eu ganhei fazer aquela linha, nos invernos trazia, grãos pra casa
sempre mi davam, tomava café todas as manhãs as vezes quando dava tempo meio
dia até almoçava, como era bom, é uma pena que hoje é só lembrança pois eu
tinha 40 anos na época, hoje já estou com 70 mi aposentei outro dia, e foi
difícil dizer aquelas pessoas hoje só na memoria o rosto dos que velhos que já
se foram, das crianças que vi nascer e crescer, do lugar que com o passar do
tempo vi mudar, saudade, mais é uma saudade feliz as amizades se mantem sempre
e aos domingos sempre que possível vou lá, é longe mais é um sacrifício que
vale a pena fazer, e uma vez mi falaram que saudade é a maior prova de que o
passado foi bom, saudades do 340 e da 203.
Relato de Paulo aos 70 anos ex Motorista de ônibus
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